Isaac Roitman, professor emérito da Universidade de Brasília e presidente da Comissão do Movimento 2022 – “O Brasil que queremos”, escreve para o Correio Braziliense
Recentemente uma empresa de construção de grande porte emitiu um pedido de desculpas ao povo brasileiro em um Manifesto com propostas por um Brasil melhor. Um país sem injustiças sociais onde todos os brasileiros possam ter uma educação de qualidade, uma assistência à saúde digna, a segurança de ir e vir, uma alimentação decente e uma cultura comprometida com as raízes do País é um desejo da grande maioria da sociedade brasileira. A escolha dos caminhos para a conquista dessa utopia precisa ser discutida e cumprida por governos democráticos, com gestores competentes e que tenham compromissos com o coletivo.
Nesse contexto, em 2015, foi criado o Movimento 2022 – O Brasil que queremos, por meio da parceria da Universidade de Brasília e União Planetária. Recentemente, a iniciativa incorporou outros parceiros do sistema de ensino superior do Distrito Federal: Universidade Católica de Brasília (UCB), Universidade Internacional da Paz (Unipaz), Centro Universitário de Brasília (UniCeub), Centro Universitário de Brasília (UDF), Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), Instituto Federal de Brasília (IFB) e Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs).
O objetivo do movimento é pautar a sociedade na análise e proposição das medidas necessárias para alcançar o Brasil que queremos, com vista especialmente à celebração do 2º Centenário da Independência em 2022. Um dos fundamentos do movimento é a promoção e consolidação de virtudes (ética, solidariedade etc.) que deverão ser assentadas no incentivo ao florescimento dos valores imateriais éticos positivos. É preciso estabelecer novos paradigmas, nova percepção, para a edificação de um novo momento. Essa transformação só se faz se houver uma mudança de consciência e de valores.
Esse movimento, que terá atuação suprapartidária, suprarreligiosa e supraideológica, vai procurar construir nova agenda por meio de diálogo político e construtivo que visa à extinção das desigualdades e o respeito às regras de um mundo civilizado. Os diálogos serão discutidos em grupos de estudos: ciência e tecnologia, construção geográfica do espaço, cultura, ecologia e sustentabilidade, educação, ética, meios de comunicação, política, relações internacionais, saúde e socioeconômica. Os estudos e propostas serão divulgados por meio da produção de artigos, documentos, livros, programas de televisão e documentários que inicialmente serão exibidos pela UnB TV, pela TV Supren e nas mídias sociais.
Algumas perguntas foram já formuladas nos diferentes grupos de estudos, entre elas: Como encantar a educação, fazendo da escola um local atrativo? De que modo se pode articular as universidades e demais instituições de pesquisa a outros setores da sociedade, visando diminuir as desigualdades sociais? Numa comunidade ética, qual é o valor que se deve atribuir ao agir político? Com que medidas a sociedade (governo, empresas, cidadãos) pode reduzir as desigualdades socioespaciais em nossas cidades, sobretudo nas metrópoles? Que modelos de geração de energia limpa são viáveis para implantação imediata, e quais são as pesquisas apontam como perspectivas para o futuro? Por que um país independente, como o Brasil, ainda é tão colonizado em seu imaginário por produtos enlatados e notadamente voltados para a difusão de cenários de violência e de solução de anseios e conflitos por meio da violência? Qual aprimoramento democrático é possível e desejável ao nosso sistema político? Quais são os maiores desafios nas relações internacionais que precisamos enfrentar para impulsionar e acelerar o processo civilizatório da humanidade? Por que a saúde pública brasileira está sempre tão ruim e deficiente? Como resolver a questão do superávit primário? E a questão do pagamento do serviço da dívida? Deverá ser feita uma auditoria cidadã da dívida? A democratização das informações e da comunicação são indispensáveis a uma reforma política?
A procura das respostas a essas e outras perguntas são os maiores desafios do movimento que é virtuoso e fadado ao sucesso como manifestado em recente pronunciamento de Ulisses Riedel: “pois investe naquilo que há de mais essencial para uma sociedade: os estudos, as pesquisas e atuações, com conhecimento científico e visão humanista, para a construção de uma Pátria digna para o povo brasileiro”.
Forte: Correio Braziliense – 11/05/2015 – página A13