Isaac Roitman, professor emérito da Universidade de Brasília e presidente da Comissão do Movimento 2022 – \”O Brasil que queremos\”, escreve para o Blog Política Brasileira
Na novela da aventura humana no planeta, os capítulos recentes são chocantes e causam perplexidades. No Brasil a crise ética, política e econômica causam preocupações principalmente nas camadas sociais menos favorecidas. O título deste artigo – Crises e superações – é de um texto publicado em forma de opúsculo, volume 3, de uma coleção: “Pensar o Brasil”, publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Na apresentação do texto Dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário geral da CNBB, aponta que as crises podem ser imperceptíveis, suaves, mas também angustiantes e mortais. Elas são pessoais, familiares, comunitárias, mas também estruturais e podem marcar uma época. Por outro lado a crise provoca a busca de uma superação.
No Brasil a classe política parece não ter ouvido os protestos populares de 2013, ficando somente preocupada com seus interesses particulares ou interesses dos financiadores de suas campanhas. Na dimensão ética é preciso refletir sobre o que fazemos, pensando sempre no reconhecimento do outro, seja ele nosso próximo, na sociedade ou até mesmo do planeta. Sem a ética nos tornamos alienados, ou seja figuras desconectadas de uma reflexão sobre o sentido da vida em sociedade.
A crise econômica, provocando desemprego crescente e perda de rendimento promove uma insegurança social. A crise política caminha em um círculo e não desemboca em uma profunda reforma política. Na publicação da CNBB é destacado que no atual momento vivido pelo país, encontram-se em ação projetos diversos de sociedade que pretendem reduzir o reconhecimento da diversidade e querem validar como regra um pensamento único.
As sombras do autoritarismo e da violência – tão intensas na história brasileira – são uma ameaça sempre presente. É forte a tentação de tratar as diferenças sociais como algo natural, ao invés de percebê-las como resultado de persistentes desigualdades econômicas. Essa estrutura perversa condena milhões a viverem excluídos e reduzidos ao cumprimento de papéis sociais de submissão e subordinação.
Para a superação das crises é prioritária a prática da ética de forma imperativa. A falta da consciência do bem comum e a ausência de uma ética de solidariedade são responsáveis pelos mecanismos perversos da opressão e exclusão. É preciso construir uma sociedade que respeite as diferenças, combatendo o preconceito e a discriminação nas mais diversas dimensões, efetivando a convivência pacífica das várias etnias, culturas e expressões religiosas e o respeito as legitimas diferenças. Para a superação da crise econômica é fundamental priorizar políticas que tenham como objetivo a redistribuição de rendas, proteções sociais e serviços públicos de qualidade.
Na esfera política o que predomina é o afastamento dos políticos de seus eleitores. Há tempos a democracia representativa brasileira, baseada em coalizões, vem dando sinais de esgotamento e exigindo urgente revisão, primando por uma democracia mais participativa. É preciso combater e extinguir os processos de dominação e exploração, as estratégias midiáticas mistificadoras que disseminam a desinformação e propagam de forma arbitrária a visão da história. Assim como a democracia que é algo que se cria e recria permanentemente, com vistas ao bem comum, a história está em constante criação.
É então pertinente a pergunta: Que história estamos fazendo? Como chegamos até aqui? Como conseguiremos superar os problemas? A saída para a crise será a promoção e consolidação dos valores e virtudes. O diálogo é fundamental. Ultrapassar a superfície dos conflitos para alcançar a unidade, a felicidade e a paz exige um ato de magnanimidade. Felicidade e paz são palavras mágicas e devem ser nossa bussola para termos um Brasil melhor. Nesse contexto é pertinente lembrar de expressões de dois pensadores: “A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros” – Confúcio – “A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos” – Albert Einstein.