Desemprego metropolitano – desafio a enfrentar

 

Aldo Paviani, coordenador do Grupo de Estudo \”Construção Geográfica do Espaço, escreve para o Correio Braziliense*

A partir dos anos 1960, com o esvaziamento dos campos por mudanças tecnológicas da produção agrícola e o estímulo dos governos militares para a migração rural em direção às grandes cidades, o processo de inchaço metropolitano não cessou. Em apoio a essa constatação, os dados estatísticos revelam que todas as capitais dos estados brasileiros receberam migrantes de cidades menores e de cidades intermediárias no processo mais conhecido por migração por etapas. Por isso, as capitais estaduais são primazes ou as maiores cidades dos respectivos territórios. As cidades grandes possuem problemas estruturais, desafiadores para as esferas do Executivo, Judiciário e Legislativo. Nenhum setor se dá conta do volume de demandas da população e das empresas. Pode-se colocar foco no volume de problemas a enfrentar na baixa oferta de emprego e consequente incremento do desemprego.

A lacuna de emprego, geradora de volume de desemprego sem precedentes no Brasil, com mais de 13 milhões de pessoas, é a parte visível da crise econômica. Ela se abateu sobre a indústria, que reduziu a produção e dispensou quantidade de operários, obrigando-os a procurar formas alternativas de sobrevivência, sobretudo em atividades do chamado circuito inferior – termo do geógrafo Milton Santos aplicado à parte da economia complementar ao circuito superior, responsável pelo dinamismo (ou queda dele) de um país. Como as grandes cidades têm o maior contingente produtivo, industrial e de serviços, foi nelas que o desemprego impactou com maior força, como revelam as pesquisas mensais do IBGE e o Sistema Seade/Dieese/Codeplan.

Apoiados nessas pesquisas, atenta-se para dados indicadores da evolução do emprego e do desemprego. Assim, a partir de 2004, o desemprego no Brasil tomava rumos incontidos, mesmo com setores demonstrando oscilações e \”recuperação\”. Múltiplas circunstâncias, internacionais, nacionais e locais, afetaram o parque industrial, que, por sua vez, repercutiu, em cadeia, nos serviços, sobretudo no comércio. Assim, o desemprego em metrópoles pesquisadas é de 16,3% em Porto Alegre, de 18,5% em São Paulo e de 19,6% em Belo Horizonte. Três metrópoles apresentaram taxas superiores a 20%: Brasília, 20,9%, Recife, 23,5% e Salvador, 25,3%.

Recentemente, a Pesquisa de Emprego e Desemprego do Seade/Dieese/Codeplan/GDF (PED/setembro/2017) indicou três metrópoles com menos de 20% de desemprego em relação à população economicamente ativa (PEA): Porto Alegre, 13,3%; São Paulo, 17,8%; e Brasília, 18,7%. Acima de 20%, Salvador, com 23,7%. Essas quatro metrópoles empregavam 13.503.000 pessoas em setembro de 2016, com leve aumento de 153 mil empregos em setembro de 2017, atingindo 13.656.000 trabalhadores. Ainda em setembro de 2016, o total de desempregados dessas cidades era de 2.896.000 pessoas, com pequeno aumento de desempregados de 46 mil pessoas em relação a setembro de 2017, quando o total atingia 2.942.000 brasileiros. Saliente-se que, desse total, 1.988.000 indivíduos se encontravam sem trabalho formal na metrópole paulista. Por fim, o Brasil possui o mais elevado desemprego de sua história, indicando enorme desafio a enfrentar por parte de empresas e autoridades públicas.

De modo geral, nota-se preocupante aumento do tempo para encontrar emprego, sobretudo a partir de fevereiro deste ano: recorde de 60 semanas em Salvador; 46 semanas em São Paulo e 39 semanas em Porto Alegre. A PED indicada refere que a crise de desemprego afeta os mais jovens, na faixa etária entre 16 e 24 anos nas quatro metrópoles: 50,9% em Salvador; 41,9% em Brasília; 37,1% em São Paulo e 22,4% em Porto Alegre. Portanto são os jovens os mais vulneráveis, necessitando de políticas públicas a eles dirigidas com atuação direta de governo e empresas. A urgência requerida será para incrementar oferta de preparo educacional e técnico para as atividades a eles dirigida. Necessita-se ampliar o número e a qualidade de escolas técnicas para os jovens, visando habilitá-los para as atividades cada vez mais exigentes quanto ao preparo profissional.

Finalmente, não se tem antevisão de políticas para superar ou atenuar os gargalos e desafios estruturais nas grandes cidades brasileiras, responsáveis pela vida econômica nacional. Por isso, é desejável que se ampliem os investimentos no setor de pesquisas e inovação, em ciência e tecnologia. Medidas mais corajosas serão de fundamental importância para ultrapassar os percalços acima apontados, com foco no soerguimento do país nas próximas décadas.


Professor Emérito da UnB, pesquisador associado do Departamento de Geografia e do Neur/Ceam/UnB 

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