Seminário instiga alunos para a resolução de questões complexas da humanidade em torno da ética, como tema transversal às áreas jurídica, política e econômica
No dia 28 de março, o Beijódromo da Universidade de Brasília (Memorial Darcy Ribeiro) sediou, mais uma vez, uma instigante tarde de debates do “Movimento 2022: O Brasil Que Queremos”. Desta vez com o seminário “Por um Brasil Ético: Reflexões nos Campos Jurídico, Político e Econômico”.
O evento contou com nomes como Maria Lúcia Fattorelli, ex-auditora da Receita Federal e coordenadora da ONG Auditoria Cidadã da Dívida; José Geraldo de Sousa Jr., doutor em Direito e ex-reitor da UnB; e Antônio Rodrigo Machado, presidente da Comissão de Legislação Anticorrupção e Compliance da OAB/DF, com mesa mediada por Mauro Noleto, presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília.
Entre os Grupos de Estudo (GE) do Movimento 2022, o GE de Ética, que foi quem promoveu o encontro, aborda um tema cujo conceito pode ser tido como transversal a todos os demais. Pensando nisso, a comissão organizadora do evento (a União Planetária e a Universidade de Brasília, na figura do professor emérito Isaac Roitman) considerou a importância de abordar o tema da ética enquanto temática subjacente às áreas jurídica, política e econômica. Mas, para além do tema de uma das comissões do Movimento 2022, o foco do encontro abordou a relevância de se considerar a ética como temática que abrange não só todas as áreas do conhecimento humano, mas também as qualifica, podendo ser tida como um ideal da condição humana.
“Sem a ética, o ser humano não se civiliza. Sem a ética, não há mediação objetiva no tocante ao fundamento que organiza a própria sociedade, que é estruturar poder político e distribuir os bens socialmente produzidos. Sem a ética, é lobo devorando lobo, é a guerra de todos contra todos. Daí a importância desse tema para a compreensão das áreas jurídica, política e econômica, entre outras”, sintetizou o evento o professor José Geraldo de Sousa Jr. “Veja o Brasil hoje. Por conta do afastamento dos princípios éticos, que devem balizar as relações sociais, as dimensões de civilidade no âmbito social, nós temos um país dividido com preconceitos, racismo, violência, quase barbárie. Então, a ética é a condição da civilização. Sem a ética, permanecemos no nosso princípio biológico puramente animal, no que isso tem de pior”, finalizou o professor.
Maria Lúcia Fattorelli compartilha de opinião semelhante. “Sem ética, não há saída. A apresentação que eu preparei para este seminário, inclusive, denuncia a falta de ética na economia brasileira e no mundo todo. Inclusive, muitos artigos que tenho lido hoje em dia ressaltam a decepção dos estudantes de economia, que ficam envolvidos naquelas fórmulas econômicas e sentem tudo isso distanciado do bem comum, da sociedade, da garantia de direitos dos indivíduos. Eles se perguntam qual é aplicabilidade social da ciência econômica no sentido de evitar a desigualdade e garantir a justa distribuição dos bens sociais produzidos”, diz. “O que temos visto é uma concentração brutal da renda e a desigualdade geral. A ética é o conceito que pode explicar tudo isso”, ressalta ela, que em sua exposição denunciou diversos esquemas fraudulentos de entes públicos e privados, que se utilizam do argumento da amortização da dívida pública como forma de garantir a distribuição indevida de recursos usurpados entre eles, em detrimento do bem-estar social.
Seguindo a trilha
“A importância de um tema como esse [a ética] para a compreensão das relações humanas pode ser compreendida quando vemos um cenário político, social e econômico como o que vivemos hoje”, ressaltou Antônio Rodrigo Machado, que falou sobre a ética do ponto de vista da situação política atual do Brasil.
Ulisses Riedel, presidente da União Planetária, também sintetizou o evento: “A história da humanidade mostra que nós sempre vivemos de forma muito superficial, à margem dos modos de viver éticos. Fizemos a escravidão, achamos naturais as colonizações… Sempre houve a prevalência dos interesses próprios. Acho importante que a humanidade viva uma mudança de mentalidade. Nós sempre buscamos o conhecimento como modo de supremacia sobre o outro, mas precisamos utilizá-lo para bem servir. Mas essa transformação está a cargo dessa juventude, porque se nós, mais velhos, não soubemos tornar este mundo um lugar melhor para se viver, cabe a eles fazer essa transição”, finalizou ele. Em sua fala, um aluno presente ao auditório completou a citação de Ulisses Riedel. “Mas contamos com a trilha que vocês sinalizaram para nós para que possamos dar esse passo”, afirmou.