Palestrantes expõem, na Comissão Senado do Futuro, cenários possíveis para a economia brasileira
O Plenário 13 do Anexo II do Senado Federal, Ala Senador Alexandre Costa, sediou, no dia 9 de abril, às 18h, mais um encontro do “Movimento 2022: O Brasil Que Queremos”, desta vez com o tema: “Rumos da Economia Brasileira”. Patrocinado pela União Planetária (UP), em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e a Comissão Senado do Futuro, o evento contou com nomes como Maria Lúcia Fatttorelli, coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida (ACD); Carlos Mussi, diretor do Escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal/Brasília); Julio Miragaya, representante do Conselho Federal de Economia (Cofecon); José Luís da Costa Oreiro, professor do Departamento de Economia da UnB; e Ulisses Riedel, presidente da União Planetária, tendo no auditório também a presença ilustre do professor emérito Aldo Paviani, da UnB. A mesa foi mediada pelo senador Hélio José (PROS/DF), presidente da Comissão Senado do Futuro.
O encontro foi marcado por duras críticas ao modelo praticado pela economia do País e também com proposições para erradicar a difícil realidade econômica brasileira atual. Em sua fala, Maria Lúcia Fattorelli começou destacando que o Brasil tem a maior concentração de renda do mundo e que o País pode ser considerado “o paraíso do capital rentista”, pois nenhum país do mundo tem uma realidade tão propícia aos especuladores. “Temos uma política monetária suicida e um modelo tributário regressivo, principalmente porque nosso sistema financeiro é baseado na amortização da dívida pública como forma de transferir indevidamente recursos públicos para banqueiros e rentistas, em detrimento da garantia dos direitos sociais da população”, asseverou a ex-auditora da Receita Federal.
Pensamento no bem comum que é ser brasileiro
Já Carlos Mussi salientou que o desenvolvimento econômico não só do Brasil, mas também mundial, é insustentável a longo prazo, uma vez que é explorador de recursos naturais, que são finitos. Ele argumenta também que “temos que ter, urgentemente, mecanismos de proteção social”, sob o risco de que a miséria social se amplie. “Toda a América Latina está na mesma situação. O Brasil está inserido em um cenário econômico de escassez semelhante ao vivenciado pelos nossos vizinhos de continente”, afirmou. Ele ainda alertou que “as crianças brasileiras são hoje mais pobres do que a média preconizada pela OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, uma organização internacional com representantes de 35 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de mercado e procuram fornecer uma plataforma para comparar políticas econômicas e solucionar problemas conjuntos de várias nações]. Em sua fala, Carlos Mussi falou que, para resolvermos nossos problemas, “precisamos pensar no bem comum que é ser brasileiro”, sustentou.
Por sua vez, Julio Miragaya explanou a respeito da financeirização da economia mundial e da insustentável concentração de renda no Brasil, oferecendo dados que comprovam que “apenas seis famílias no Brasil têm a renda de 104 milhões de brasileiros”.
Segundo ele, não há futuro para o sistema capitalista no mundo. Todavia, ele também argumenta que, no mundo atual, “ainda não temos condições de superar esse sistema, infelizmente”. Miragaya sustenta que o sistema financeiro brasileiro é altamente regressivo e marcado, sobretudo, pelo capital especulativo, pela incidência de impostos indiretos para o bolso do trabalhador e por um modelo tributário perverso, que pune os mais pobres, enquanto alivia para os mais ricos.
Proposições para evitar a crise atual
Em seu discurso, Oreiro apresentou a Agenda Brasil 2022, que diagnostica problemas da economia nacional e propõe alternativas para combater o cenário pouco auspicioso do País. Segundo ele, governo após governo, “nós não resolvemos os desequilíbrios macroeconômicos do Brasil”, caracterizado por ele como “disfuncional”. Ele argumenta que as taxas de juros praticadas no País estão sistematicamente sempre acima da taxa de equilíbrio, cujo fenômeno é denominado como “sobrelevação crônica da taxa de juros”. Conforme ele alertou, “o Brasil tem níveis de pobreza inaceitáveis para uma sociedade civilizada”. Segundo o seu raciocínio, a política econômica praticada no Brasil causa “o esmagamento dos lucros”. Para resolver tais distorções, ele mencionou algumas proposições, como a reforma no regime de política macroeconômica, o crescimento sustentável, melhor distribuição de renda, a redução da pobreza, a estabilização da dívida pública/PIB a médio prazo, a melhoria gradual do índice de Gini [medida de desigualdade desenvolvida pelo estatístico italiano Corrado Gini] e o aumento dos gastos do Programa Bolsa-Família para 0,5% do PIB, programa considerado, por ele, como o melhor meio disponível atualmente para reduzir a pobreza.
Em seu discurso, Ulisses Riedel destacou que “a atual prática econômica mundial está isenta de valores”. Segundo ele, há um vício de origem na economia, que contaminou a democracia, que é confundida com capitalismo. Ulisses também alertou que não vai ser com cálculos econômicos que vamos resolver os problemas do mundo, mas sim colocando os princípios da vida acima do materialismo. “Temos que colocar a economia a serviço da vida, e não o contrário”, proferiu. Sua fala foi muito aplaudida.
Por fim, o professor Aldo Paviani argumentou que vivemos “um período de total falta de ética”. E questionou: “Como é que um país tem um salário mínimo como o nosso, enquanto há pessoas que contam com salário-moradia? Precisamos de uma sociedade mais solidária”.