Repleto de palestras, temas variados e instigantes, além de personalidades de renome em suas diversas áreas de atuação, o Movimento 2022 apresenta estudos e propostas imprescindíveis para o Brasil atual, que espera comemorar os 200 anos de uma independência que o País ainda não viveu. Conheça mais sobre este notável espaço e saiba em que ele pode contribuir no sentido de propor soluções para a realidade brasileira
Por Luciano Kernac –
Daqui a pouco mais de quatro anos, o histórico evento da Proclamação da Independência (1822) vai completar seu bicentenário. De lá para cá, que razões temos para comemorar? A independência que se buscou no período da Monarquia era referente à submissão do Brasil como colônia portuguesa. E daqui a quatro anos? E hoje? Que independência buscamos? Provavelmente, independência dos estereótipos herdados da mentalidade colonial que nos mantém sob jugo, enquanto nação, há tanto tempo, como o fisiologismo, o coronelismo, a sujeição ao capital estrangeiro, a evasão de divisas para o exterior, o preconceito, o racismo, a ausência de direitos, a falta de democracia, a desigualdade social, a assimetria nas relações, para dizer só o mínimo. Em palestra no Centro de Referência em Educação Integral e Ambiental (CREIA), em Brasília (DF), em dezembro de 2017, o antropólogo congolês Bas’Ilele Malomalo sintetizou bem a dicotomia da nossa cultura (talvez, porque vivida também pelos seus próprios conterrâneos): “O Brasil ainda vive imerso no paradigma colonial: coloniza e é colonizado”. Como fazer essa transição de paradigma, de um país colonizado pelas deficiências crônicas de sua cultura para uma nação consciente de seu papel com seus próprios cidadãos e o mundo? Uma resposta para isso pode começar a ser construída agora, a partir dos encontros do “Movimento 2022: O Brasil Que Queremos”. Resultante de uma parceria entre a União Planetária (UP) e a Universidade de Brasília, por intermédio do Núcleo de Estudos do Futuro/UnB, o movimento consiste de vários fóruns de diálogos de alto nível e aprofundados entre a sociedade civil e grandes personalidades da cultura brasileira, especialistas em suas respectivas áreas de formação. Mas o que torna esse fórum de palestras tão relevante para a nossa atual situação política, econômica, social, ambiental, cultural…? Vamos enumerar aqui cinco bons motivos para que os encontros do Movimento 2022 sejam acompanhados e contem com a ativa participação da sociedade brasiliense e brasileira.
1º) O Movimento 2022 aborda temas de especial relevância para toda a sociedade no momento atual do país.
Os encontros são organizados a partir de Grupos de Estudo que tratam de diversas áreas do conhecimento e de atuação. Os grupos são constituídos a partir dos seguintes setores temáticos: Ciência e Tecnologia, Construção Geográfica do Espaço, Ecologia e Sustentabilidade, Ética, Educação, Meios de Comunicação, Política, Relações Internacionais, Saúde, Social/Econômico, Paz e Direitos Humanos. Cada um desses grupos, com seus respectivos especialistas e com o público (você, que lê este texto, por exemplo), possibilita uma variedade incrível de diálogos e contribuições para situações difíceis que vivemos atualmente enquanto indivíduos e como nação.
Por exemplo: entre os temas relevantes para a compreensão da nossa realidade, você já parou para pensar em como a ética (ou a falta dela) permeia todas as áreas do nosso viver? Então, perguntamos: você acha importante o tema da ética para o mundo atualmente? Em resposta a questionamentos assim, o Movimento 2022 sugeriu o seminário “Por um Brasil Ético: Reflexões nos Campos Jurídico, Político e Econômico”, que ocorreu no dia 28 de março, no Memorial Darcy Ribeiro, na UnB. No referido encontro, José Geraldo de Sousa Jr., doutor em Direito e ex-reitor da UnB, afirmou: “Sem a ética, o ser humano não se civiliza. Sem a ética, não há mediação objetiva no tocante ao fundamento que organiza a própria sociedade, que é estruturar poder político e distribuir os bens socialmente produzidos”, afirmou. Para o professor, “sem a ética, é lobo devorando lobo, é a guerra de todos contra todos. Daí a importância desse tema para a compreensão das áreas jurídica, política e econômica, entre outras”, sintetizou. Em seguida, ele argumentou que, por conta do afastamento dos princípios éticos, que devem balizar todas as relações sociais, “nós temos um país dividido com preconceitos, racismo, violência, quase barbárie. Então, a ética é a condição da civilização. Sem a ética, permanecemos no nosso princípio biológico puramente animal, no que isso tem de pior”, analisou o professor.
2º) O Movimento 2022 constitui um âmbito privilegiado de participação que agrega inteligências e personalidades de renome da realidade nacional que têm o que dizer e contribuir para uma efetiva mudança na sociedade brasileira.
Você já pensou em um espaço que reúna especialistas em determinado tema para nos ajudar a compreender determinada realidade e nos auxiliar no nosso empoderamento? Nós também. O encontro do dia 9 de abril, na Comissão Senado do Futuro, que contou com o tema: “Rumos da Economia Brasileira”, foi um exemplo disso. No referido evento, Carlos Mussi, diretor do Escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal/Brasília), salientou que “as crianças brasileiras são hoje mais pobres do que a média preconizada pela OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico]” e que, para resolvermos nossos problemas, “precisamos pensar no bem comum que é ser brasileiro”, sustentou.
3º) São encontros abertos, públicos, com entrada franca e adesão também popular, que possibilitam a participação de qualquer pessoa interessada em contribuir com suas ideias.
A gratuidade dos encontros e a participação popular também são marcas importantes do Movimento 2022. No citado seminário “Por um Brasil Ético: Reflexões nos Campos Jurídico, Político e Econômico”, Ulisses Riedel, presidente da União Planetária (UP), afirmou que o ser humano sempre buscou o conhecimento como modo de supremacia sobre o outro, “mas precisamos utilizá-lo para bem servir. Porém, essa transformação está a cargo dessa juventude [apontou para o público, repleto de muitos jovens estudantes], porque se nós, mais velhos, não soubemos tornar este mundo um lugar melhor para se viver, cabe a eles fazer essa transição”, argumentou. Após sua fala, um aluno presente ao auditório completou a citação de Ulisses Riedel. “Mas contamos com a trilha que vocês sinalizaram para nós, para que possamos dar esse passo”, afirmou.
4º) Trata-se de eventos que propiciam que palestrantes e o público presente e ouvinte possam se informar, propor sugestões e indicar encaminhamentos práticos e propostas em prol de uma transformação social.
O Movimento 2022 também é democrático e dialógico, ao permitir sugestões e proposições para a resolução de determinadas questões identificadas nos encontros. No referido evento “Rumos da Economia Brasileira”, José Luís da Costa Oreiro, professor do Departamento de Economia da UnB, sugeriu algumas proposições para resolver o problema da miséria no País. Entre elas, a realização de uma refor-ma no regime de política macroeconômica, a instituição do crescimento sustentável, uma melhor distribuição de renda, a estabilização da dívida pública e o aumento dos gastos do Programa Bolsa-Família para 0,5% do PIB.
5º) Os seminários têm um formato que pode ser adaptado para outros públicos e para outros âmbitos de formação, como escolas de nível fundamental e médio, além de associações de classe.
Reside em sua possibilidade de adaptação a outros espaços de instrução outra notável característica do Movimento 2022. Sem dúvida, um dos grandes problemas atuais do cotidiano brasileiro é a violência, flagelo social que não poupa nem as escolas públicas e nem estudantes de tenra idade. Neste sentido, seriam de extrema importância, para se encontrarem soluções para essa dura realidade, diálogos como os propiciados pelo “Fórum sobre Segurança Pública”, ocorrido em março deste ano, que contou com o tema: “A Política como Estratégia de Superação da Guerra Social”. No referido evento, Flávio Werneck, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do DF (Sindipol/DF), lastimou o fato de que a segurança pública no Brasil pode ser considerada um sistema falido. “De cada 100 homicídios no Brasil, apenas oito são resolvidos. O que equivale a dizer que, se eu cometer um crime, tenho 92% de chances de não cumprir pena no Brasil e nem de ser indiciado”, citou. Imagine que variada gama de trabalhos, ricos diálogos e grupos de estudo – com propostas, manifestações artísticas, concursos… – os temas do Movimento 2022 poderiam propiciar, em especial no sentido de aproximar a escola da comunidade e vice-versa, não somente em torno de um assunto tão urgente e doloroso como a violência – que afeta tantas escolas do Brasil, tantas famílias, tantos jovens, tantos municípios –, mas também todos os outros temas. Muitas contribuições poderiam vir da base da sociedade em direção ao topo da pirâmide social, em verdadeiro movimento de transformação. Tudo isso pode ser uma semente de mudança. Basta que você também participe do Movimento 2022. Que os motivos que apresentamos aqui possam levar você a ser mais um ativo ator neste cenário brasileiro tão necessitado de protagonistas sociais pelo empoderamento do outro. Venha nos conhecer!