Por Juliana Brizola, Deputada estadual e líder do PDT na Assembleia Legislativa do RS (Alers), para o Monitor Mercantil em 20/07/2020.
Em tempos de pandemia pelo novo coronavírus, a foto da menina Júlia, 9, aluna de um Ciep (Centro Integrado de Educação Pública), em um sinal de trânsito na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro usando uma proteção e segurando um papelão com os dizeres: “Troco uma máscara por um alimento” viralizou nas redes sociais. Sem aula, por causa da quarentena, a cena comovente me trouxe à lembrança de que esse projeto de educação, criado pelo professor Darcy Ribeiro, saído da prancheta do arquiteto Oscar Niemeyer e construído pelo governador Leonel Brizola, foi criado há 35 anos.
Recentemente, apresentei um projeto de lei para que os estudantes do Estado do Rio Grande do Sul recebessem aulas através da TV pública, durante o confinamento social. As nossas escolas estaduais estão despreparadas, dependem de cada professor, que não têm condições de resolver esse problema, afinal, ganham muito pouco e ainda estão com os salários parcelados.
Tem muito professor endividado, deprimido, doente, e não pode resolver um problema que é do sistema público de educação, que deveria estar extremamente preocupado com essas crianças. E muitos alunos não têm celular, e, quando têm, são muito precários, e também não têm internet.
Em uma situação dessa, de extrema necessidade, poderiam ser firmadas parcerias público-privada, as operadoras liberariam o wi-fi, e empresas doariam aparelhos celulares e outras tecnologias, para ajudar as escolas.
Pode parecer uma utopia! Mas mirem-se no exemplo de Leonel de Moura Brizola, que, como poucos, acreditava no poder de transformação da sociedade pela educação pública. Quando prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande do Sul, nos anos 1950, construiu 6.300 escolas. No Rio, construiu 500 Cieps, e por isso foi muito criticado, de que os custos dessas escolas de ensino integral eram elevados, e que a manutenção custava outros tantos.
Mas Brizola, ele não desistia: “Cara, é a ignorância”, dizia, com sua fala carregada pelo sotaque do Sul. Frasista espirituoso, pregou a Educação como política de Estado: ”Direitos iguais para todos, privilégios só para as crianças”. “Dos Cieps hão de sair aqueles homens e mulheres que irão fazer pelo povo brasileiro tudo aquilo que nós não conseguimos ou não tivemos coragem de fazer.”
E ele não desistia em sua incansável cruzada nacional pela Educação: “Se deixássemos de pagar os juros da dívida externa por apenas dois anos, todas as crianças brasileiras poderiam estar estudando num Ciep.”
Portanto, se sucessivos governos não tivessem abandonado os Cieps, poderíamos ter salvado crianças da marginalidade e formado doutores, professores, cientistas. Talvez, a franzina Julia – um símbolo da nossa educação sucateada – estivesse recebendo suas refeições e um ensino remoto de qualidade, pois esse era o espírito do projeto e o sonho que o meu avô, Leonel, gostaria de ter deixado para todas as crianças do Brasil.
Photo credit: CollegeDegrees360 on VisualHunt / CC BY-SA