Bicentenário da nossa independência?

Por Isaac Roitman, Professor Emérito da Universidade de Brasília, em artigo para o Monitor Mercantil em 11/06/2021

 

No dia 7 de setembro de 2022 vamos comemorar o bicentenário de nossa independência. Devemos comemorar? Revisitando a nossa história e olhando para os tempos atuais, uma pergunta emerge: “Somos um país independente?”.

A resposta é não. Alguns podem não concordar, dizendo que temos uma bandeira, um hino nacional etc. Revisitando nossa história constatamos que durante séculos o Brasil foi uma colônia de Portugal, desde a sua descoberta até 1822. Em 1534 foram criadas 15 capitanias hereditárias, que foram doadas para uma pequena nobreza lusitana.

A economia predatória foi praticada em todo período colonial abrangendo vários ciclos: pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro e diamante e outros. A colonização teve como principais características: civilizar, exterminar, explorar, povoar, conquistar e dominar. A “suposta” independência do Brasil aconteceu em 1822 tendo como marco o “grito do Ipiranga” inaugurando a monarquia com a coroação de Dom Pedro I. Em vários aspectos (econômico, cultural etc.) somos ainda um país colonizado e manipulado.

É difícil dizer que um país é independente quando parte de seu povo depende de uma “bolsa família” para sua subsistência. Existe independência quando mais da metade de seu orçamento é utilizado para amortizar a dívida pública?

Que independência é essa quando a política é uma carreira, e não um trabalho social, e onde medidas superficiais são adotadas para combater a e mascarar a desigualdade social. Não podemos falar em independência e soberania quando nossas terras e empresas são adquiridas a preço de banana pelo capital internacional. Não dá para dizer que somos independentes quando a tsunami da corrupção assola o país e quando as políticas de educação e cultura são praticamente inexistentes, e o fomento para a Ciência e Tecnologia são drasticamente reduzidos.

Estamos pagando caro, com vidas perdidas na pandemia da Covid-19 pelos erros irresponsáveis que cometemos. Estamos interrompendo projetos de pesquisas e nossos cérebros estão migrando para países onde o desenvolvimento científico e tecnológico é um dos pilares do desenvolvimento. Se a política de investimentos em Ciência fosse contínua, não teríamos essa escassez de vacinas e insumos para a saúde.

O que caracteriza um país justo, moderno, independente é aquele que oferece boa qualidade de vida à população. É aquele que proporciona educação de qualidade e oportunidades para todos, que desenvolve uma agropecuária moderna e autossustentável, estrutura industrial competitiva, desenvolvimento científico e tecnológico avançado, eficientes meios de transportes, comunicação ampla e democrática, analfabetismo zero, baixa mortalidade, uma eficiente rede de saúde pública, com hospitais bem equipados, sem moradores de rua, boas condições de moradia, alimentação e saneamento básico, segurança pública eficiente e elevada expectativa de vida e preserva e estimula sua cultura.

Repetidamente, costumamos dizer que não existe melhor caminho para alavancar a produtividade do que a oferta de uma educação de qualidade. É absolutamente válido dizer que temos que ter uma educação que seja capaz não apenas de preparar bem os nossos jovens para o exercício de uma profissão, mas também de prepará-los plenamente para o exercício pleno da cidadania.

Vamos todos trabalhar para conquistarmos uma verdadeira independência. É pertinente lembrar o pensamento de Albert Eistein: “A personalidade criadora deve pensar e julgar por si mesma, porque o progresso moral da sociedade depende exclusivamente de sua independência.”

 

 

 

 

 

 

 

 

Photo by Tomas Martinez on Unsplash

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