Por Aldo Paviani, geógrafo e professor emérito da UnB, e Cilene Nunes Rodrigues-Nevins , Linguista e professora da PUC/Rio, para o Correio Braziliense em 16/09/2021
De modo geral e sempre com regularidade, o tempo no Distrito Federal é binário -período chuvoso e tempo seco. Em pleno setembro, há quase dois meses, atravessamos o período seco, que se mostrará rigoroso ainda por alguns dias, quiçá um mês. Neste período de estiagem e no fim do dia, o poente é vermelho cinzento, cores que denunciam a poeira existente na atmosfera, de um lado e, de outro, o ar esfumaçado oriundo das queimadas em todos os rincões da região Centro-Oeste e sul da Amazônia. Há no DF dois oásis: as Águas Emendadas e o bosque no Catetinho, dois recantos ainda não atingidos pelas labaredas. Na primeira, um fenômeno topográfico faz com que as águas das nascentes fluam para as principais bacias fluviais brasileiras – Tocantins-Araguaia, Paraná e São Francisco. Essa ocorrência foi registrada em programação de televisão, por sua excepcionalidade.
Todavia, não é sabido até quando as águas vão aparecer em raras nascentes, exuberantes como as do Catetinho, pois a demanda faz pressão e poderá esgotar os lençóis subterrâneos ainda existentes. Bombeia-se o precioso líquido para os mais variados fins, inclusive, alguns bastante questionáveis, como lavar calçadas ou automóveis. Essas práticas poderiam ser proibidas por afetar o abastecimento domiciliar e de empresas que produzem alimentos ou que usam água para fins comunitários, como os caminhões-pipa, que abastecem domicílios onde não há rede de encanamentos que abastecem de água potável os bairros da capital.
A Câmara Legislativa do DF poderia preparar e debater um projeto de lei que visasse impedir o uso da água potável para fins não recomendados, uma vez que começamos a entrar no período crítico, que antecede ao racionamento, de todo indesejado por suas consequências desagradáveis. Mas, na falta de bom-senso para poupar água, vale baixar decretos ou elaborar leis que freiem a gastança prejudicial ao consumo coletivo.
No aspecto de bloquear o mau uso da água potável, cabe papel importante para algumas autoridades locais, como o prefeito de quadra ou os síndicos de blocos para reprimir os que desperdiçam água regando jardins desnecessariamente ou além do limite desejável. De resto, observa-se em diversos bairros de Brasília muitas plantas armazenadoras de água. Elas têm folhas perenes e mantêm o verde que muito admirou o arquiteto Lucio Costa em um sobrevoo do Plano Piloto feito há alguns anos. O bairro central de Brasília é exemplar na manutenção do verde nas quadras e jardins das entrequadras.
O grande urbanista e arquiteto elogiou este aspecto, mas argumentou que o verde deveria se estender para os demais bairros da capital. De fato, alguns núcleos, têm mais árvores em lotes residenciais do que ao longo de suas avenidas e isso, para muitos, não chega a ser um problema ambiental ou paisagístico, ou melhor, nem sequer são observados pela maioria das pessoas. Não são vistos porque seguem descolados do cotidiano e da imaginação dos moradores desses lugares.
O verde de um território é tido como normal na cena urbana, e não como um elemento indispensável para os demais seres vivos, o ser humano aí incluído. Jamais essas pessoas se dão conta de como as plantas podem estar em profunda sintonia com a natureza circundante – morros e vales, quando existirem. Evitam erosões e enfeitam os campos e as cidades. Lastimavelmente, o cerrado não é associado ao meio ambiente. Todavia, o alarme disparou quando todos perceberam a vegetação dizimada por incêndios em muitos rincões do Centro-Oeste e mesmo do Distrito Federal.
Nas escolas do DF, os cursos sobre o meio ambiente devem possuir mapas em cores vivas para serem mostrados para as crianças, pois serão elas as que, quando adultas, valorizarão cada porção de terreno onde existam árvores que crescem e se reproduzem. Os professores devem indicar aos estudantes que a vida está imbricada – as aves e os animais silvestres disseminam sementes em terrenos cobertos por vegetação desde séculos. Manter essa paisagem e fazê-la respeitada por todos manterá a vida no planeta. Por isso, a grande vegetação amazônica, presente em vários países sul-americanos, será testemunha do quanto se quer esse continente verde e cortado por rios e bem distante das areias de deserto como o Saara africano, em que a areia cobre gigantesca porção do território africano.
Finalmente, manter a grande Floresta Amazônica em pé ficará mais em conta para os países em que ela exista do que dizimá-la e procurar, posteriormente, resolver os enormes problemas que surgirão, como erosões, assoreamento de rios e aumento significativo da temperatura da região, com perda umidade da atmosfera, importante para todos os seres vivos.
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