Artigo de Luiz Antonio Barreto de Castro, agrônomo, membro da Academia Brasileira de Ciências e ex-secretário de Ciência e Tecnologia do MCT, para o Monitor Mercantil em 21/02/2022
Basta cada habitante do planeta comprar 1 hectare de floresta
O tema mudanças climáticas está na agenda de todo o planeta embora alguns questionem suas causas. De qualquer forma, é indiscutível que eventos extremos têm aumentado em todo o mundo, sejam ou não derivados de mudanças climáticas.
No Brasil há 11 anos tivemos um evento que causou a morte de quase 1.000 pessoas. Refiro-me às chuvas em excesso na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, principalmente nas cidades de Petrópolis, Teresópolis e Friburgo.
O efeito das chuvas provocou a queda de encostas de morros onde lamentavelmente se situavam residências e famílias que perderam suas vidas. Na ocasião publiquei em O Globo um artigo em que afirmei que as mortes poderiam ser evitadas se um sistema de alarme fosse utilizado, o que não aconteceu.
Onze anos depois, novamente somos vítimas de um desbarrancamento de encostas agora especificamente em Petrópolis. É verdade que uma precipitação de 600 milímetros de chuva em seis horas é um fenômeno inusitado. As sirenes funcionaram, mas teremos certamente cerca de 300 mortes que poderiam ter sido evitadas. Durante 11 anos foram identificadas todas as regiões em Petrópolis em que não se deveria permitir a edificação de moradias. Entretanto nada foi feito em 11 anos para impedir que estas moradias fossem construídas.
Quando era criança, no morro de Santa Teresa, vi pessoalmente a queda de um edifício em uma encosta. Isto não acontece mais em Santa Teresa porque foi realizado um extenso trabalho de contensão de encostas, o que não ocorreu em Petrópolis. Estamos andando para trás. Como evitar estes eventos extremos já que os dirigentes do País não têm responsabilidade social, apostando que eles sejam decorrentes de mudanças climáticas?
O Brasil prometeu no Protocolo de Paris reflorestar 12 milhões de hectares. O Brasil tem pouco mais de 200 milhões de habitantes. Uma promessa modesta, ou seja, cada brasileiro promete reflorestar cerca de 0,06 hectare. Se considerarmos que o planeta tem 7 bilhões de habitantes e terá rapidamente 10 bilhões, seria fácil salvar o planeta se a sociedade comprasse florestas.
O desafio das mudanças climáticas impõe à sociedade mundial promessas muito mais audaciosas. Se cada habitante do planeta se comprometesse a comprar 1 hectare, poderíamos reflorestar 7 bilhões de hectares, e o Brasil poderia se comprometer a reflorestar não os modestos 12 milhões de hectares, mas mais de 200 milhões de hectares.
Isto seria fácil se não fossem os falsos profetas corruptos com os quais convivemos há décadas. Devem se lembrar que no Paraná venderam florestas. Uma espécie de Boi Gordo florestal. Quem comprou perdeu tudo. Da mesma forma que se vê agora nos que estão sendo ressarcidos do que investiram no Boi Gordo. Estão sendo vítimas de uma lógica perversa. Quem investiu pouco recebeu de volta 50% do que investiu. Quem investiu muito está recebendo 8%. Não se leva em consideração se o investidor e mais ou menos abastado. O Brasil é hoje líder na pecuária mundial. É possível que este sucesso se deva a mais de 30 mil credores que foram vítimas desta falcatrua, como os que foram vítimas da falcatrua florestal no Paraná.
Então, se quisermos salvar o planeta? Diminuir a emissão de CO2? Resolver os problemas das mudanças climáticas? Não é necessário lançar mão de créditos de carbono como se preconiza com pouca aderência mundial. Países ricos que destruíram suas floretas compram créditos de carbono de países pobres que ainda não destruíram suas florestas. Basta cada habitante do planeta comprar 1 hectare de floresta. Serão 10 bilhões de hectares rapidamente, antes do final do século. Quem tem coragem de fazer isso depois das falcatruas desses falsos profetas?
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