As universidades devem mudar a forma de ensinar

Julio Cezar Durigan*

 Texto publicado no Estadão

As universidades brasileiras, definitivamente, precisam mudar a forma de ensinar seus alunos. Não podem continuar atuando da mesma forma, como há 40 ou 50 anos, para uma geração com características e aptidões totalmente diferentes.

Uma das primeiras providências inovadoras consistiria na diminuição das atividades do estudante exclusivamente em sala de aula e em contato direto com o professor, substituindo parte delas por propostas extra-classe que exijam pesquisa e auto-motivação dos alunos.

Com 30 a 40 horas de aula/semana, os alunos não conseguem parar para pensar e refletir sobre os ensinamentos que recebem. Muitos tiram cópias das melhores anotações de colegas para estudar/decorar um dia antes da prova, enquanto outros criam arquivos de fotos, feitas com o celular, dos textos e figuras apresentadas em PowerPoint pelo professor.

As aulas teóricas e práticas não devem ser extintas, porém podem ter uma limitação de tempo por disciplina, até porque, no mundo atual, é impossível ‘esgotar a matéria’ em sala de aula. Esse período não deve ser superior a 2 horas-aula/semana/disciplina, atingindo um total de, no máximo, 20 horas-aula/semana para disciplinas do semestre ou ano.

Dessa forma, é possível que, no período restante, os alunos possam ter tempo para ‘ligar’ o que estão aprendendo na teoria a algumas das suas realizações na prática. Podem se dedicar mais definitivamente às suas pesquisas de campo e/ou laboratórios, fazer estágios concomitantes e mais precoces e se dedicar à leitura de bons livros-textos e à consulta de sites e de informações confiáveis, disponibilizadas na internet a serem indicadas e, posteriormente, discutidas com o professor, aumentando significativamente o período de uso das bibliotecas que, atualmente, são muito melhor equipadas para atendê-los.

Atualmente, os imprescindíveis smartphones não podem continuar a ser fonte de discórdia entre quem ensina e quem aprende, mas sim um forte aliado nessa interação, podendo ajudar no desenvolvimento de alunos com espírito de liderança. Esse processo de formação começa com os ensinamentos adquiridos no curso e continua com a busca de informações fundamentais dentro do grupo de trabalho em que ele está atuando, seja uma empresa, universidade ou empreendimento autônomo.

Dessa forma, as 40 horas ou mais de aulas da semanais continuarão preenchidas, porém de maneira menos ‘massacrante’ e ainda atendendo o Currículum Mínimo exigido pelo MEC e entidades profissionais, desde que se considere as ações extraclasse como períodos de ensinamento que atendem o aprendizado de um respectivo período do semestre/ano.

Em visitas às melhores universidades do mundo, várias delas presentes entre as 20 primeiras em quaisquer rankings, é possível constatar essas novas concepções e paradigmas de ensino. Os nossos alunos que lá se encontram, frente a essas novas experiências, seguramente são mais felizes e realizados dentro da dinâmica a eles oferecida.

Precisamos, portanto, rapidamente estabelecer novos projetos-modelo de ensino dentro de cada uma das grandes áreas do conhecimento (Biológicas, Exatas e Humanidades). Devemos enfrentar o conservadorismo e o corporativismo universitários que barram, já no nascimento, as novas concepções salutares de ensino aqui apresentadas.


* Julio Cezar Durigan é reitor da Unesp

 

 

 

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